Em 1º de março, o programa Bem Estar da Rede Globo exibiu uma matéria sobre raios X, ultrassom e outros exames feitos a partir da radiação ionizante. Infelizmente, a reportagem prestou informações duvidosas e causou revolta entre centenas de profissionais da área, que manifestaram suaindignação em nossa página no Facebook.
A maior reclamação dos internautas foi sobre os convidados para responder às perguntas e dúvidas enviadas pelo público ao programa. Não havia nenhum especialista da área, apenas o médico ginecologista José Bento e o médico radiologista César Nomura. Fora aberto um precedente para que as respostas levassem pouco em conta aspectos normativos do uso da tecnologia e do exercício profissional.
Embora a formação dos profissionais das técnicas radiológicas seja inferior à graduação dos doutores, esses seriam os profissionais mais adequados e melhor habilitados para esclarecer dúvidas enviadas pelo grande público, pois lidam com a tecnologia na prática, no dia a dia. Além disso, como se trata de uma profissão regulamentada, seria indispensável a presença de um representante da entidade de classe, com domínio completo sobre a legislação que rege o uso da tecnologia, bem como informações precisas sobre radioproteção.
Vale pontuar que o exercício profissional das técnicas radiológicas é regulado, normatizado e fiscalizado pelo Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (CONTER). A autarquia federal tem mais de 90 mil profissionais inscritos, logo, possui legitimidade para discutir temas que concernem à área nos meios de comunicação de massa. Infelizmente, a categoria profissional foi completamente ignorada na reportagem.
A presidenta do Conselho Nacional das Técnicas Radiológicas (CONTER) Valdelice Teodoro lamentou a oportunidade perdida e espera que o episódio sirva como aprendizado para a grande imprensa, que precisa se inteirar melhor de temas tão complexos como esse antes de reportar informações à sociedade. “Fiquei triste, pois foi a melhor oportunidade que tivemos na história de mostrar para a população brasileira o que é a radiação ionizante, como funciona, seus benefícios e seus riscos, o que é bastante obscuro para a maioria, ainda. Também era a oportunidade ideal de evidenciar a importância dos profissionais das técnicas radiológicas nas equipes multiprofissionais de saúde”, frisa.
“Nada contra os doutores, pelo contrário. Ambos são conceituados e, há muitos anos, fontes da grande imprensa. Contudo, o assunto em pauta merecia a presença de pelo menos um especialista das técnicas radiológicas. Embora o profissional da área tenha menos tempo de formação que os médicos, em virtude da especificidade da sua formação, está mais preparado para responder a dúvidas da população. Estou certo disso”, considera o diretor secretário do CONTER Valtenis Aguiar Melo.
A reclamação mais recorrente entre os profissionais das técnicas radiológicas foi sobre a completa omissão da figura do Tecnólogo em Radiologia. Quando questionados sobre os profissionais habilitados para operar equipamentos de raios X, os médicos simplesmente não mencionaram o profissional.
Assim como ignoraram a figura do tecnólogo, falaram de proteção radiológica como opção, e não como obrigação prevista em lei, passível de fiscalização e multa. Várias vezes, foram usadas as terminologias “chapa de raio X” e “operador de raios X”, numa clara demonstração de desconhecimento das momenclaturas usadas cotidianamente no exercício profissional.
“Esta reportagem gerou muitas dúvidas, ao realizar exame em uma paciente tive enfrentar muitas perguntas”, relatou a profissional Andrea de Mello Queiroz, de Curitiba.
“Não é a primeira vez que acontece. Infelizmente, o tempo da televisão é curto e não tomam o cuidado necessário para tratar do assunto com o cuidado que deveriam. Mas não vamos nos lamentar. Vamos nos posicionar e fazer um esforço conjunto para veicular as informações corretas. Quem procurar conhecer o assunto de verdade, vai procurar informações que tenham credibilidade”, opina o diretor tesoureiro do CONTER Abelardo Raimundo de Souza.
Para ver a íntegra do tópico criado no Facebook para discutir o assunto, clique aqui
Nota da assessoria de imprensa
A assessoria de imprensa do CONTER entrou em contato com a produção do programa, mas, até o momento, não recebeu retorno. Por isso, decidiu tornar pública a opinião do Conselho, bem como a manifestação dos profissionais que se sentiram ofendidos.
Vários profissionais exigiram que entrássemos com pedido de direito de resposta, mas esclarecemos que o tema não é regulamentado no Brasil e um processo do tipo demandaria recursos do qual não dispomos.
Atualmente, existe um projeto de lei em tramitação no Senado Federal que pretende regular o direito de resposta. Até lá, nos resta sensibilizar a sociedade com as ferramentas de comunicação que temos. Não são as mesmas de uma grande emissora, mas já surtem bastante efeito.
Antes de mais nada, nos cabe sensibilizar nossos pares. Ademais, nos esforçar para tornar o CONTER fonte em outras matérias pertinentes, para evitar que equívocos como esse se repitam.